Consumista, eu? Pesquisa mostra o uso do termo 'consumismo' em jornais brasileiros

Por Eliza Casadei

Dos xingamentos disfarçados de uma crítica suave (aqueles que não utilizam palavrões, são socialmente aceitos, mas escondem uma maldade feroz para a destruição de um adversário) poucos são mais terríveis do que ser chamado de “consumista”. Diante de todas as desgraças que acontecem no mundo e que encontramos nos jornais todos os dias, é como se o consumismo nos colocasse a mancha de insensíveis, fúteis, cruéis, mimados, infantis e pouco profundos intelectualmente. Nem sempre foi assim. O uso popular do termo “consumismo” mudou muito ao longo do tempo. Uma pesquisa que eu fiz pelo PPGCOM-ESPM mapeou o termo em jornais brasileiros ao longo do século XX e chegou à conclusão de que ele nem sempre representou uma ofensa digna de uso em estádios de futebol.

Em uma pesquisa que envolvia 2.879 jornais e revistas do acervo da Biblioteca Nacional, eu percebi que o termo “consumismo” não era comum nos jornais até, pelo menos, a década de 1970. Embora a sua primeira aparição tenha sido no jornal Diário Carioca, na edição do dia 06/11/1955, ele só volta a aparecer novamente em 1963 e passa a figurar como um tema importante nas discussões públicas nos anos 70, quando eu encontrei 531 recorrências do termo. Daí pra frente, ele é cada vez mais usado: na década de 1980, foi usado 1544 vezes (e começa a aparecer até na seção de horóscopo). O curioso, contudo, é que o consumismo não representava a mesma coisa para esses dois tempos históricos.

sacolas de compras 2Na década de 1970, o “consumismo” aparecia principalmente no caderno de economia. Ele era um termo técnico, usado meramente para se referir aos ajustes necessários entre a oferta e a demanda de produtos. Não era realmente um xingamento, só um ator econômico um pouco incômodo. É só na década de 1980 que os jornais passam a tratá-lo como um problema do indivíduo, como um desvio de comportamento, como uma compulsão a ser evitada. Os mecanismos econômicos são inocentados e é o indivíduo que leva a culpa.

Os diferentes usos populares da palavra “consumismo” nos dois períodos nos faz pensar sobre quem estamos xingando, em quem estamos colocando a culpa pelos problemas do nosso tempo histórico. Talvez nunca antes os sujeitos tenham apanhado tanto por causa daquilo que nos causa mal estar socialmente. Precisamos pensar mais sobre isso.

Quer saber mais sobre esse tema?

Veja o artigo completo em https://seer.ufs.br/index.php/eptic/article/view/5821/4825.

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