Nike e Adidas brigam pela “viagem à Lua”

Breaking2_nikegeógrafo David Harvey é considerado um dos maiores nomes do pensamento intelectual e científico da atualidade. Para o professor britânico, uma imensa quantidade de esforço (incluindo a formação de uma vasta indústria de publicidade) tem sido colocada para influenciar e manipular as necessidades, vontades e desejos das populações humanas para assegurar um mercado potencial. E a nova ‘briga’ no mercado entre Nike e Adidas parece exatamente tocar neste ponto.

Em dezembro do ano passado, naquele triste (triste para nós, simples humanos) vácuo da Olimpíada, a Nike lançou o “Breaking 2”, um audacioso projeto no qual a marca afirmara estar investindo em pesquisas nos últimos três anos com um propósito: completar os 42.195m de uma maratona em menos de duas horas.

Três corredores de elite – Eliud Kipchoge (Quênia), Lelisa Desisa (Etiópia) e Zersenay Tadese (Eritreia) – e cerca de 20 profissionais, entre designers, engenheiros, nutricionistas, fisiologistas e treinadores, têm se dedicado apenas a tentar baixar o recorde atual, de 2h02min57s, que pertence ao queniano Dennis Kimetto, para menos de duas horas. Em seu texto de divulgação, a Nike afirma que muitos consideram a “missão impossível”, mas que o projeto “é a encarnação final” da marca: “trazer inspiração e inovação para todos os atletas do planeta”.

No final de fevereiro, às vésperas da primeira prova major do ano (série formada pelas seis maiores e mais renomadas maratonas do mundo: Tóquio, Boston, Londres, Berlim, Chicago e Nova York, e que conta com patrocínio da farmacêutica Abbott), em Tóquio, foi a vez da Adidas dar sua cartada em busca do “tempo mágico”. A companhia anunciou o lançamento do adizero Sub2, calçado criado especialmente para o projeto. A iniciativa da marca alemã, por sua vez, nasceu na Maratona de Londres, em 2012, e agora a está na rua — e nos pés dos profissionais.

kipsang-adidasO novo tênis foi utilizado pela primeira vez pelo queniano Wilson Kipsang na capital japonesa — o atleta venceu a prova, mas “apenas” com o tempo de 2h03min58s, insuficiente até mesmo para a quebra do recorde mundial — lembrando que isso dá uma média de 20 quilômetros por hora (tente correr nesta velocidade por apenas poucos segundos na esteira da sua academia: é quase impossível). Segundo a marca, o tênis estará disponível para os consumidores ainda este ano.

É isso. As marcas pretendem o quanto antes “pisar na Lua”: um tempo praticamente impossível, previsto para ser atingido apenas em 2021 se os atletas mantiverem a média da evolução dos recordes nos últimos 100 anos, basicamente em troca de estarem à frente em “inovação para o corredor”. O mercado de corrida de rua movimentou US$ 3,2 bilhões em 2015 apenas nos Estados Unidos, segundo a National Sporting Goods Association (associação norte-americana de artigos esportivos), de acordo com o portal Máquina do Esporte.

A Nike mantém em segredo algumas estratégias para que tal tempo seja batido – mesmo que uma delas seja “roubar no jogo”: alcançar o tempo em um percurso fechado, em altitude e clima considerados ideais para a tentativa. Assim, é possível que a marca não seja registrada oficialmente pela IAAF (Federação Internacional de Atletismo), que tem exigências específicas sobre o trajeto que é aceito para recordes — mas o relógio apontaria menos de duas horas.

monza-02E o primeiro teste para tal feito foi realizado agora no começo de março, no autódromo de Monza, na Itália. Os três atletas da marca que encabeçam o projeto participaram de uma simulação na pista de corrida – que, teoricamente, possui condições de tempo e temperatura ideais (veja tabela com os dados abaixo).

No mesmo dia, a marca norte-americana apresentou o seu tênis produzido especialmente para o projeto, o “Zoom Vaporfly Elite”, e que começou a ser trabalhado em 2013. As tecnologias usadas no modelo também serão utilizadas em modelos comerciais, o Zoom Vaporfly 4% e o Zoom Fly, que chegarão aos consumidores em junho.

Para Harvey, “as pessoas agem de acordo com suas expectativas, suas crenças e sua compreensão do mundo”. E essa compreensão, aqui, tem um número exato de metros, horas, minutos e segundos.

Este texto foi publicado, originalmente, no Meio & Mensagem.

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