O que consomem os que não consomem?

Resenha do artigo “Identidades políticas e consumos não-consumistas:
concepções de jovens ativistas da cidade de São Paulo” (2016), de Rose de Melo Rocha e Simone Luci Pereira.

Por Maria Beatriz Portelinha

 

brechóEm uma sociedade cercada pelo consumo e de críticas ao seu respeito, é essencial poder diferenciar o quanto o consumo é diferente de consumismo e o quanto o primeiro faz parte de nossas vidas cotidianas. Ao consumismo se atribui a noção de patologia pelo excesso de consumo, enquanto o ato de consumo, dissociado da doença, abrange os hábitos diários dos indivíduos e como se relacionam com a sociedade. Ao consumir os indivíduos estabelecem uma relação com a sociedade, organizando suas práticas cotidianas, seus rituais e entendendo seu pertencimento na organização social, pois o consumo, além de um ato de prazer frugal como julgado por tantos, é também sinalizador de pertencimento e das identidades que os indivíduos assumem para si e para os outros.

Partindo dessa discussão, as autoras Rose de Melo Rocha e Simone Luci Pereira buscam explorar em seu artigo as práticas de consumo de diferentes ativistas da cidade de São Paulo, buscando entender como as práticas de consumo desses indivíduos se harmonizam com suas narrativas críticas ao capitalismo.

Primeiramente, as autoras expõem que a sua pesquisa abrange diferentes tipologias e grupos críticos a sociedade de mercado: ativistas ambientais, sociais, produtores culturais, militantes políticos, militantes pela democratização da mídia e militantes anti-globalização. É necessário entender que cada um desses grupos possui táticas e estratégias diferente quanto ao seu consumo, fazendo negociações sobre qual consumo lhes é razoável e qual consumo devem “burlar, subverter ou resistir” (p.11). Por exemplo, alguns ativistas defendem práticas de consumo alimentar saudáveis e orgânicas e evitam o consumo de McDonalds devido as explorações com que a multinacional se envolve.

sweetgreenAo invés de bloquearem toda e qualquer prática de consumo, estes ativistas criam estratégias alternativas de consumo que sejam condizentes com o que acreditam. Segundo as autoras, os ativistas conseguem identificar a “ambivalência do capitalismo contemporâneo”, identificando práticas de consumo possíveis e que não estariam atreladas à patologia em consumir. Esses consumos possíveis, para estes grupos, aparecem como manifestações coletivas através das quais reafirmam suas identidades ao mesmo tempo que socializam e compartilham práticas com aqueles que defendem os mesmos princípios. Assim, práticas como consumir livros de sebos, ir a brechós, utilizar transportes públicos, frequentar restaurantes orgânicos e ocupar espaços sociais aparecem como práticas alternativas que fomentam sociabilidades coletivas dos grupos de ativistas.

As autoras concluem que “Consumir para preencher vazios existenciais pode ser negativo, assim como mercantilizar as relações, aquelas que estes ativistas tanto prezam, como quando podem se encontrar com amigos, ir aos bares e baladas, desde que, ali, o privilegiado seja a troca, e não o consumo em si, por moda, vaidade ou futilidade. Consomem, pois, pelo desejo de encontro. E rechaçam a superficialidade e a ganância.”

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