O trabalho colaborativo na cultura empreendedora

1O mestre em Comunicação e Práticas de Consumo, Marcelo Spina Jr fala em sua dissertação sobre o trabalho colaborativo e a atividade empreendedora em uma empresa de coworking, buscando trabalhar quais são os significados e a relevância do empreendedorismo e do trabalho colaborativo na contemporaneidade.

Confira o que o autor tem a dizer sobre seu trabalho:

1- Sobre o que foi a sua pesquisa?

A pesquisa tem como tema o trabalho colaborativo e a atividade empreendedora dentro do Impact Hub São Paulo, uma empresa de coworking que possui, como missão, proporcionar um espaço voltado à produtividade empreendedora por meio da colaboração e troca de experiências entre diferentes projetos. O objetivo fora, compreender, em perspectiva crítica, o empreendedorismo e o trabalho colaborativo, além de seus significados e relevância na contemporaneidade. Para tanto, a investigação aplicou a análise do discurso de linha francesa nos discursos do IHSP e, também, de seus membros – extraídos a partir da aplicação de entrevistas. O suporte teórico baseia-se em autores como Boltanski, Chiapello, Sennett, Ehrenberg, Han, Casaqui, entre outros.

2- Qual foi a sua reflexão?

Como o Impact Hub São Paulo e seus membros produzem os sentidos do “trabalho colaborativo” na cultura empreendedora e quais as relações destes discursos com o espírito do capitalismo contemporâneo?

3- Por que essa reflexão é importante para nós, enquanto sociedade?

Primeiramente porque estamos inseridos em um contexto capitalista. Desta forma, refletir sobre o funcionamento e os desdobramentos deste modo de produção é uma maneira de refletir sobre o nosso contexto social. Em um segundo plano, pesquisar sobre a produção (no caso, um estudo sobre uma empresa) é, também, pesquisar o consumo – que, por sua vez, é um tema de extrema pertinência para os estudos sociais, afinal, como nos ensina Canclini, hoje em dia muitas das perguntas dos cidadãos sobre pertencimento, informação e direitos estão mais ligadas ao consumo privado de bens e de meios de comunicação de massa do que às regras abstratas da democracia ou até às participações coletivas em espaços públicos.

4- O que você descobriu? Quais foram os resultados?

Conforme a análise dos resultados, concluímos, em contraponto ao que trazem os discursos autorreferenciais do IHSP, que as relações de trabalho dentro deste espaço não são, de fato, relações colaborativas e que a convocação para construir um “novo mundo” a partir de um “trabalho colaborativo de alto impacto”, neste contexto, configura-se meramente como parte da retórica do capitalismo a fim de produzir o engajamento dos indivíduos neste modo de produção.

5- Fale um pouquinho da experiência de ter feito a pesquisa.

A pesquisa me desenvolveu como indivíduo. Principalmente por eu estar inserido no contexto dos ditames que o neoliberalismo carrega consigo (fiz uma graduação extremamente voltada ao mercado de trabalho). O desenvolvimento como sujeito acompanhou a resposta a algumas das minhas angústias acerca de um tema que está tão próximo a mim (tenho muitos amigos que se autodenominam empreendedores e que buscam trabalhar dentro da chamada “economia colaborativa”, por exemplo). Desconstruir estes discursos me trouxe um olhar mais amplo a estas práticas que, conforme respondido na  questão anterior, são parte da retórica do capitalismo – que, por sua vez, é um modo de produção que tende a causar problemas sociais, como a alta desigualdade socioeconômica. Compreender que o espírito produzido para o capitalismo através destes discursos busca promover o engajamento dos indivíduos no sistema sem que seja necessário “forçá-los” me fez repensar acerca das minhas próprias motivações, seja como pesquisador ou como indivíduo. Além disso, foi possível estudar a questão da colaboração e como uma relação colaborativa (que exige relações empáticas e a longo prazo) acaba sendo paradoxal ao modelo do capitalismo flexível – em que as relações são, cada vez mais, de curto prazo e superficiais.

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