O uso das antenas parabólicas em cidades de interior
Por Maria Beatriz Portelinha
As formas de receber os sinais de televisão podem ser variadas, mas são as antenas parabólicas que atendem a demanda da população em lugares afastados e de difícil acesso. A possibilidade de ter uma parabólica, para alguém que mora afastado dos grandes centros urbanos, representa o seu direito ao entretenimento e informação, promovendo inclusão a esses cidadãos.
No Brasil, o sinal de televisão para uso doméstico pode ser transmitido de algumas maneiras diferentes, utilizando aparelhos de recepção diferentes. Os mais conhecidos são a televisão a cabo, as antenas UHF, as antenas digitais e as antenas parabólicas. As televisões a cabo estão disponíveis em grandes cidades, a partir de assinaturas mensais, onde o usuário paga uma quantia por mês para receber o sinal de televisão local através de cabos da rede de telefonia. Já as antenas UHF e digitais são gratuitas, dependendo apenas da compra das antenas e adaptadores, recebendo o sinal de retransmissoras locais dos canais abertos. As antenas parabólicas entram nesse contexto como uma alternativa de acesso para cidadãos de locais onde o sinal das retransmissoras é fraco e não há a possibilidade de assinatura de um acesso via cabo. As antenas parabólicas, como as antenas UHF e digitais, também são gratuitas, mas prometem uma recepção de sinais de televisão mais eficiente. Elas captam o sinal diretamente dos satélites das transmissoras de televisão, sem passar pelas retransmissoras locais, recebendo um sinal mais limpo e sem custos aos usuários
As antenas parabólicas são grandes. Seu diâmetro pode variar de 3 a 6 metros, e quanto maior seu diâmetro, maior a capacidade de recepção. Seu formato é, como o nome diz, parabólico, tendo semelhança com um grande prato côncavo ou um guarda-chuva de ponta cabeça. Estas antenas podem ser feitas de alumínio ou fibra de vidro, que atraem o sinal televisivo e o refletem para o centro, concentrando o sinal que será transmitido aos usuários. Este tamanho e formato é responsável por criar uma paisagem característica de cidades pequenas e afastadas, onde a maioria das casas possuem um “prato gigante de metal” em seu telhado.
O alto número de antenas parabólicas, principalmente em áreas rurais, indica o potencial de acesso que trazem à população de áreas mais afastadas. Possuir uma antena parabólica significa ter acesso ao sinal de televisão com um mínimo de qualidade possível. Uma das funções dos meios de comunicação é oferecer à população orientação e informação quanto aos seus comportamentos e desafios do dia-a-dia, criando um universo de saberes compartilhados (HJARVARD, 2014). Como exemplos dessa prática temos a programação matutina da rede globo de televisão, que através de programas como Mais Você, Bem Estar e Programa da Fátima Bernardes repassam conteúdos informativos à população, como os direitos do consumidor, hábitos de saúde, dicas de alimentação, etc. Ter acesso à televisão, para populações de cidades afastadas e áreas de difícil acesso, não é somente ter uma fonte de entretenimento, mas também estar inserido na sociedade, desenvolvendo seu senso de identidade e comunidade.
Ao possibilitar o acesso diretamente às transmissoras, as antenas parabólicas não conseguem disponibilizar acesso aos canais locais, ou seja, os domicílios com antena parabólica só possuem acesso a canais nacionais. Os conteúdos que os usuários têm acesso são nacionais e em sua maioria produzidos no eixo Rio-São Paulo, os dois maiores polos de comunicação do país. Assim, de certo modo, os telespectadores do interior estão expostos a conteúdos nacionais, mas permanecem distantes dos conteúdos televisivos regionais. Em uma pesquisa para entender a relação entre a publicidade e a pobreza realizada por Maria Eduarda da Rocha Mota (1990), uma de suas entrevistadas afirmou que a televisão era “um aparelho que a pessoa tá no Rio de Janeiro e você tá vendo aqui”.
Assim, as vantagens do uso da antena parabólica frente a outras modalidades de recepção podem ser entendidas em 3 fatores: primeiramente, é mais barata e mais fácil de possuir do que as Tvs por assinatura; a qualidade de sinal da antena parabólica é superior à qualidade de outras modalidades gratuitas; a parabólica possibilita acesso à informação àqueles que moram em locais afastados. Entretanto, frente a imposição de conteúdos nacionais para essas populações locais, podemos pensar os conteúdos televisivos como cada vez mais globalizados, distantes das especificidades culturais e símbolos locais das cidades de interior. Para Giddens (2010), esses conteúdos geram um desencaixe, ou seja, ou deslocamento cultural dos telespectadores, o que pode repercutir na alteração de seus modos de vida e do seu cotidiano.
As antenas parabólicas ao mesmo tempo que possibilitam acesso, tem globalizado os conteúdos midiáticos. Não cabe a nós aqui fazer um julgamento moral, mas destacamos a importância de se estar ciente tanto de seus aspectos positivos quanto de seus aspectos negativos.
Referências:
GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo, Editora Unesp, 1991.
HJARVARD, Stig. A midiatização da cultura e da sociedade. Ed Unisinos, 2014.
ROCHA, Maria Eduarda da Mata. Publicidade e Pobreza: Um Estudo de Recepção. Sage, v. 5, p. 207-238, 1990.