Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça?

Embora esse tipo de cobertura raramente problematize a partilha entre o masculino e o feminino, as formas como as relações de gênero aparecem no jornalismo de celebridades constituem parte importante da construção simbólica sobre papéis esperados dentro de uma sociedade. A matéria sobre a então eminente primeira dama, Marcela Temer, “Bela, recatada e do lar”, publicada pela revista Veja, em meados de 2016, pode ser tomada como um exemplo.
Nesse post, levamos você a uma viagem entre 1949 a 2010. A trajetória acompanhará a Paris Match, revista semanal de interesse geral de maior circulação na França. Nesse caminho, contemplaremos como a mulher brasileira figurou em reportagens da Paris Match durante 92 edições.
A mulher brasileira ganha destaque em duas ocasiões incomuns: na cobertura sobre o golpe de 1964 e no jornalismo de celebridades do esporte.
Capa Paris Match - Tereza Goulart A cobertura esportiva foi o tema preferencial,  com 40 ocorrências – quase metade das vezes que o Brasil foi pauta. Os brasileiros retratados foram Pelé, Ronaldo e Ayrton Senna; as mulheres brasileiras representadas restringiram-se aos laços amorosos estabelecidos com essas personalidades. Ayrton Senna é o mais retratado, com 49 fotos publicadas, seguido por Ronaldo (25), Adriane Galisteu (18), Pelé (15) e Suzana Werner (10).  Momentos íntimos de Pelé foram retratada em 13% das imagens. Anos depois, no caso de Ronaldo, subiu para um terço. A vida pessoal de Senna foi evidenciada após sua morte  – Galisteu se torna pivô da narrativa tecida sobre a vida do piloto e uma vedete da Paris Match, estampando diversas reportagens. Curioso notar que Galisteu nunca foi abordada pela revista em reportagens anteriores à morte de Senna. Embora tanto ela quanto Werner possuíssem carreiras artísticas, nunca foram citadas senão em função de atributos físicos e como fiadoras do sucesso de seus pares.
Articulação mais curiosa sobre as relações de gênero na reportagens com mulheres brasileiras da Paris Match está na cobertura sobre o Golpe de 1964. Na principal reportagem sobre o golpe, a capa não traz nenhum dos personagens políticos que engendraram os acontecimentos, mas uma fotografia da recém-ex-primeira dama, Maria Thereza Fontella Goulart, com a chamada “Brasil: Sra. Goulart, a bela exilada”.
Nas páginas internas, o título era “Brasil: a bela presidente perseguida pela revolta”. Os atributos físicos são a principal característica enfatizada durante toda a reportagem. Para Paris Match, “ontem, Maria Thereza Goulart era, sobretudo, célebre por sua beleza. A reportagem segue contando a história de amor entre ela e o ex-presidente João Goulart, bem como sua vida familiar. Ela é retratada como uma mulher caseira, que prefere ficar longe dos jogos do poder e cuidar dos filhos.
Uma das pontuais menções ao regime militar se dá em uma reportagem publicada em 1974, quando Paris Match faz uma capa sobre a moda do fio-dental. A reportagem traz fotos de brasileiras nas praias cariocas vestindo a peça e correlaciona a moda com a política. Segundo a reportagem, “O regime militar puritano do Brasil perseguiu os primeiros topless que apareceram na praia de Ipanema, um posto elegante do Rio. Dias mais tarde, foram postos à venda os fios-dentais”. A legenda da foto reforça a ideia, ao colocar que “estas brasileiras se lançaram à moda no Rio, onde os seios nus são proibidos”. Novamente, Paris Match estabelece uma correlação discursiva entre o feminino e a política a partir de um ponto de vista enviesado e pouco usual, que retira a figura feminina do protagonismo da ação.
Os dados desse post foram extraídos do artigo “A Mulher Brasileira na Revista Paris Match de 1949 a 2010”, de autoria da Prof. Dra. Elisa Casadei. Para acessar esse conteúdo na íntegra, clique aqui.

 

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