Quanto custa o outfit e o fetichismo da mercadoria

Nos últimos dias, a timeline do Facebook foi invadida por um vídeo “ostentação”, poderia se dizer. Sem introdução, ou qualquer conclusão ou questionamento, vemos jovens aparentemente de classe alta, desfilando cifras e o que parecem ser marcas de roupas renomadas ao responder à questão: “Quanto custa o outfit”, frase que abre a produção.

https://www.youtube.com/watch?v=-I_RABrD-E8

Outfit, que vem do inglês, refere-se ao look, as roupas que vestem contando os acessórios. E o que impressiona são os valores apresentados. Um tênis por mais de seis mil Reais, uma corrente por três mil Reais, uma bolsa por doze mil, outros falam os preços em dólares. No final, é calculado o quanto a pessoa gastou para se vestir daquela forma.

A empresa por trás do vídeo é a Hyped Content Brasil, que segundo seu Facebook, busca documentar “a cena streetwear no Rio de Janeiro”, que diferente da moda das marcas e lojas, interessa-se pelas tendências que as pessoas incorporam e vestem no dia a dia. A página também comenta a popularidade alcançada pelo vídeo nos últimos dias, tanto que produziu um novo com a mesma temática, mas em uma simples olhadela, parece que as cifras são ainda maiores. Veja aqui

Quer pagar quanto?

O que leva esses jovens a consumirem roupas por esse custo? Uma das explicações é o conceito do fetichismo da mercadoria, elaborado por Marx. Um produto não tem seu preço estipulado somente pelo seu valor de uso, como podemos constatar no caso do “outfit”. As roupas ganham um valor superior devido a marca à qual pertencem e também, provavelmente, por se inserirem em uma tendência da moda.

Mas só isso não consegue explicar valores fora do contexto brasileiro, em que metade dos brasileiros têm renda inferior ao salário mínimo: hoje está em Novecentos e cinquenta e quatro Reais.

Consumo comunica

Outro fator que ajuda a entender esse cálculo da mercadoria é o fato de que “chamamos de valiosos aqueles objetos que opõem resistência a nosso desejo de possuí-los” (SIMMEL, 1987, p. 67). Ou seja, quanto mais exclusivo, quanto mais difícil de obter, maior será o custo de aquisição. Tanto em relação quanto à escassez do produto quanto ao sacrifício que teremos de fazer para obtê-lo. O brasileiro que ganha um salário mínimo por mês precisa de um ano de economia total para conquistar uma produção de doze mil Reais, como apresentada no vídeo.

É claro que a dificuldade monetária de obtenção dessas mercadorias as tornam também objetos de distinção, o que quer dizer como explica Douglas (1967), que funcionam como cupons ou licenças destinados a proteger sistemas de status, o que seria a função da moda em nossa sociedade. O consumo é um ato de comunicação no capitalismo, como defende Appadurai (2009), e nesse caso a ostentação dos jovens e seus outfits parece gritar como afirmava uma propaganda antiga destinada ao público infantil (e que a atual legislação de proteção às crianças provavelmente proibiria): “Eu tenho, você não tem”.

 
 
 

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