Círculo Mágico e Airbnb

Consumir dá trabalho. Afinal, pode requerer esforço físico, financeiro e imaginativo. E, no mundo conectado, o engajamento parece ser cada vez mais demandado.
Ser um consumidor Airbnb, por exemplo, exige boa dose de esforço. Primeiramente, é preciso disposição para elaborar um anúncio de si, capaz de convencer que você seria elegível como hóspede e/ou anfitrião. É mandatório enviar cópias de documentos à plataforma, concedendo o direito de verificar-se informações a seu respeito, como: endereços, antecedentes, vistos e registros de viagens e histórico nas redes sociais. E é esperada uma dada conduta, sob pena de exclusão.
A variedade de qualidade das fotos podem a dificultar a avaliação. Além disso, como no Airbnb as acomodações são residenciais, podem estar localizadas nos mais diversos bairros – alguns bem pouco centrais ou turísticos – exigindo dos consumidores mais cuidados quanto à localização. Além do imóvel, é preciso pesquisar sobre o anfitrião. E, uma vez encontrados imóvel, localização e anfitrião ideais, há a chance da reserva não ser aceita.
No caso dos consumidores anfitriões, ainda há as tarefas de promover a acomodação na plataforma, receber os hóspedes, ocupar-se da manutenção, limpeza e bom estado do imóvel, realizar a contabilidade etc.
E, é claro, é fundamental ter excelentes avaliações.
Não obstante todo esse processo, uma pesquisa da consultoria PWC, de 2014, apontou que 63% dos consumidores consideram mais divertido consumir na economia participativa. 78% dos usuários apontaram um aumento da sensação de comunidade e proximidade entre as pessoas como fator-chave para se engajar no consumo compartilhado e 89% citaram a confiança como pilar das relações nesse mercado.
Que tipo de lógica faz com que o consumo compartilhado pareça mais divertido? Que sentidos comunidade e proximidade assumem e como se desenvolvem? O que leva as pessoas confiar em estranhos? Quais os afetos em jogo no consumo de Airbnb?
Com essas perguntas em mente, no artigo O Jogo como Mobilizador de Afetos no Airbnb, a mestranda do PPGCOM da ESPM-SP, Rosa Fonseca, sondou como aspectos lúdicos poderiam estar presentes na comunicação e no consumo de Airbnb.
Para isso, partiu do pressuposto de que a promessa de prazer é cláusula quase fundamental ao consumo. E, quanto mais se demande do consumidor, mais é desejável que haja uma recompensa percebida – em forma de diversão, por exemplo.
Para Huzinga [2000], uma forma de constatar envolvimento lúdico é observar se os indivíduos passam a partilhar do que ele chama de Círculo Mágico, um espaço simbólico, relativamente destacado do cotidiano, com regras próprias, que isola as preocupações, consequências e relações habituais e as substituiu por novos personagens, regras, significados e afetos. Uma vez em um Círculo Mágico, os indivíduos tendem a se sentir mais à vontade para testar comportamentos e significados diferentes do dia-a-dia.
Levando isso em consideração, um Círculo Mágico poderia ser um caminho para explicar porque, na vida costumeira, dificilmente alguém anunciaria a uma multidão de desconhecidos que serão acolhidos fraternalmente se quiserem usar a sua casa como um hotel. Ou iria para casa de completos desconhecidos, ainda que isso signifique economias com hospedagem.  Nesse sentido, propõem-se que o universo simbólico e o ambiente controlado do Airbnb talvez forneçam, simbolicamente, bases para que os sujeitos sejam capazes de abandonar imaginariamente as regras comuns e envolver-se em práticas que, fora da proteção de um Círculo Mágico, seriam mais difíceis de justificar.
Para ler o artigo na íntegra, acesse: Anais Intercom 2018

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