Como os jovens apresentam suas vidas no Facebook?
Por Marcos Hiller
Os meios de comunicação contribuem para modelar práticas identitárias. Uma parcela significativa de jovens compartilham seus modos de ser e viver principalmente por meio da produção de conteúdo em redes sociais digitais.
Para investigar a construção de identidades por parte de estudantes universitários de duas instituições de ensino superior da Grande São Paulo com perfis socioeconômicos contrastantes, o mestre Marcos Hiller escreveu a dissertação “Modos de apresentação de si no Facebook – Construção da identidade de jovens estudantes em um site de rede social digital”, defendida em 2014.
Fizemos algumas perguntas ao autor sobre o seu trabalho, a ligação dele com os problemas do dia-a-dia e sobre o processo de fazer um mestrado. Confira!
- Sobre o que foi a sua pesquisa?
Em um mundo norteado pela cibercultura e pela socidedade do consumo, em que os meios de comunicação contribuem para modelar práticas identitárias, evidencia-se uma parcela significativa de jovens que, por meio da produção de conteúdos em redes sociais digitais, compartilham seus modos de ser e viver. Investigou-se em meu estudo a construção de identidades por parte de estudantes universitários de duas instituições de ensino superior da Grande São Paulo com níveis sócio-econômicos contrastantes. Por meio de uma pesquisa empírica de caráter netnográfico complementada por entrevistas pessoais, chegou-se a um entendimento sobre as articulações entre comunicação e consumo nas lógicas de construção de identidades dentro do ambiente virtual da rede social digital Facebook.
- Qual foi a sua reflexão?
O objetivo de meu trabalho investigativo foi entender aspectos da comunicação no site de rede social digital Facebook, e demonstrar como determinados atores, no caso alunos do curso de Publicidade da Grande São Paulo, construíram suas estratégias de identidade na rede. Vimos que os modos de apresentação de si assumem um papel cada vez mais central nas estratégias de cada um de nós, ou seja, na forma como articulam suas atitudes, dos indivíduos contemporâneos. A esses universitários não basta apenas estar presente nas redes, eles devem mostrar que se sentem à vontade ali e, ainda, se relacionando.
- Por que essa reflexão é importante para nós, enquanto sociedade?
Os sites de redes sociais digitais como Facebook, LinkedIn, YouTube, Twitter e Instagram, e principalmente a forma como as pessoas se apropriam desses sedutores espaços online é algo que exige reflexões. O que as redes estão fazendo com a gente? Com nossos afetos? Acredito na potência comunicacional dessas novas redes para o compartilhamento de informações, gerando importantes transformações no consumo midiático e cultural.
- O que você descobriu? Quais foram os resultados?
Finalizamos o estudo com a interpretação sobre os relatos dos jovens alunos, onde evidenciou-se o consumo, e sua inexorável relação com a comunicação, assumindo um notado protagonismo. Com a pesquisa feita nessa jornada investigativa, fica muito evidente que as redes sociais digitais são ambientes comunicacionais e, sobretudo, também espaços de pessoas e do consumo. Terminei o esse estudo enxergando e colocando o consumo como instância privilegiada para refletir a experiência contemporânea no contexto da crescente penetração do mercado nas mais diversas esferas de nossas vidas.
- Fale um pouquinho da experiência de ter feito a pesquisa.
Saí do mestrado com várias respostas para questões que me incomodavam, mas também com muito mais perguntas de quando entrei. São novas perguntas. Mais complexas. De modo que a forma com que nos apropriamos desses espaços está impactando as lógicas dos afetos? Quais seriam os efeitos danosos do uso irrefreado de sites de redes sociais? Até que ponto poderia se afirmar que as interações em aplicativos como Facebook, Instagram e Whatsapp intensificariam uma espécie de autismo e desconexão social nas pessoas?
São questões candentes, inquietações que levaram estudiosos como Sherry Turkle (2009) a considerar que estamos “alone together” nas redes sociais digitais. Para revitalizar nossos vínculos afetivos interpessoais, a autora propõe um regime de desintoxicação por meio de abstinência digital. Embora considere um tanto radical a perspectiva adotada por Turkle, a julgar pelos resultados de minha pesquisa de mestrado, entendo que os efeitos de longo prazo de nossas interações mediadas por computador necessitem ainda de muito estudo.
Quer ler mais? Confira a dissertação no banco de Dissertações do PPGCOM/ESPM:
http://www2.espm.br/sites/default/files/pagina/marcos_roberto_hiller.pdf.