Corpo e trabalho nas narrativas do consumo da diferença

portal-superacaoO artigo ‘O consumo da diferença: corpo e trabalho nas narrativas do “Portal da Superação”’, dos Profs Drs João Carrascoza, Vander Casaqui e Tânia Hoff aborda a visibilidade oferecida a deficientes na sociedade brasileira a partir da exibição midiática do “corpo diferente”. No texto, o objeto de estudo são as narrativas de pessoas amputadas, divulgadas na plataforma digital Portal da Superação, do site Globo.com, que têm origem na trama ficcional televisiva Viver a vida, dirigida por Manoel Carlos. No referido portal, as narrativas apresentadas em versão resumida no desfecho de cada capítulo encontram-se em versão estendida e transcendem a esfera da telenovela no processo transmidiático. Tendo como enfoque a inter-relação dos processos de comunicação e de consumo da alteridade, o artigo delimita a análise nos deslizamentos de sentido do corpo e do trabalho, considerando algumas transformações dos regimes de visibilidade da diferença.
O texto se inicia com a construção da constituição do espírito do nosso tempo a partir de cultura, comunicação e consumo.  Produção e consumo, vistos a partir do cotidiano dos sujeitos, passam a se relacionar como polos distintos, quase opostos, de uma mesma existência, onde o trabalho é revestido dos sentidos da obrigação, da subsistência, da identidade homogeneizante a partir de funções concebidas como padronizadas, definidoras do caráter de quem as exerce, na circulação social dos significados do mundo do trabalho, consumido midiaticamente por meio das representações sociais elaboradas no seio da indústria cultural.
Por outro lado, é no consumo que o imaginário da distinção, da individualidade, da ficcionalização do cotidiano se exerce com maior intensidade; os bens materiais e as produções culturais, com destaque para as narrativas audiovisuais do cinema, e depois, das narrativas televisivas, revestirão a existência de possibilidades de transformação, do sonho materializado, de metas particularizadas de vida, do imbricamento entre real e imaginário.
Assim, as narrativas se alimentam da cultura e retornam a ela com a ambição da aprovação, da assimilação, da atribuição de sentidos e da identificação dos sujeitos. É nessa perspectiva que os autores encontram o especial interesse os depoimentos do Portal da Superação, como extensão narrativa da trama ficcional da novela Viver a vida. No plano estético, a novela aprofunda a relação entre o padrão das narrativas ficcionais, uma linguagem consolidada pela tradição telenovelesca da Rede Globo, e sua junção com a estética documental, das falas e da visibilidade das “pessoas comuns”, que não são apenas figurantes, mas principalmente protagonistas de suas próprias narrativas, de suas histórias de traumas e superações, de suas autoficções e autoenganos, de suas maneiras de atribuir sentido para as próprias vidas, em conjunção com a tematização da novela.
Os breves depoimentos inseridos no final de cada capítulo de Viver a vida, disponibilizados em edição expandida no site Portal da Superação, consistem numa espécie de diálogo transmidiático entre o mundo possível da ficção, focado no drama da personagem principal da novela, e seu percurso rumo à superação, e o mundo real em que pessoas passaram por situação traumática e relatam, num formato padrão de narrativa, como a superaram.
Desta forma, os autores buscam abordar os ocultamentos e as visibilidades – os modos de dizer e de atribuir sentidos – construídas pela mídia para o corpo diferente, considerando que a alteridade é tema recorrente nas cenas midiáticas de períodos históricos e sociedades distintas. Por fim, com as análises de três depoimentos, o artigo fala sobre a possibilidade do corpo amputado, na condição de corpo diferente, não ser considerado como obstáculo ou impedimento. Ao contrário, atribui-se a ele um status positivo: considera-se esse corpo como promotor de reconhecimento familiar e também social, com a reinserção no mundo do trabalho.
Confira a íntegra do arquivo neste link.

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