Home office veio para ficar

Andrea Moraes, vice-presidente executiva do Grupo Ketchum Brasil, aponta que a pandemia trouxe uma quebra de protocolos e aprendizados que viraram o trabalho de ponta cabeça

Desde o início da pandemia, Andrea Moraes, 50 anos, desdobra-se para colocar de pé e reinventar o jeito de trabalhar na consultoria de comunicação que chefia. Desde às oito da manhã acordada até o último cliente, isso significa muitas vezes estar atenta até as 21 horas, ela conta ao Memorial do Consumo que todos os dias aprende algo novo, diferente e que “Nada! Nada será como antes”.

Em meio a um cenário de desaceleração econômica diante de uma pandemia avassaladora, a jornalista conta que prefere vender lenço a chorar e neste contexto acorda todos os dias entusiasmada com o próximo desafio. Moraes é hoje a vice-presidente executiva da Grupo Ketchum Brasil e head de treinamento de Comunicação. Ela é jornalista formada pela PUC-Campinas e pós-graduada em Comunicação Corporativa pela Faculdade Cásper Líbero. Tem uma larga experiência em comunicação corporativa e atua na área de construção e fortalecimento de imagem e reputação.

Sua marca definitivamente é o bom humor e foi com essa energia que ganhou até hoje 17 prêmios nacionais e internacionais ao lado da sua equipe, como costuma frisar. Os prêmios são destinados à área de comunicação, conscientização e comunicação para o público em geral. Dentre todos, Moraes destaca três que marcaram pelo impacto social. O primeiro que ela lembra com carinho é a campanha “Obesidade sem marcas – cirurgia menos invasiva é um direito”. A campanha de comunicação integrada foi feita para a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) e teve como objetivo divulgar os benefícios da cirurgia bariátrica por videolaparoscopia junto à opinião pública sensibilizando a ANS a atualizar as coberturas dos planos de saúde no Brasil com relação ao tratamento obesidade mórbida. A campanha foi vencedora do prêmio POP (Prêmio Nacional de Opinião Pública – 2011[1]), o Oscar das Relações Públicas, e segundo colocado do prêmio internacional Stevie Awards (2012[2]). Outro grande desafio foi no seguimento da sexualidade masculina em que construiu a imagem de um produto médico, respeitando a legislação vigente, diante de dois grandes concorrentes fortes. A campanha não só gerou visibilidade à marca como superou as publicações dos concorrentes do mesmo setor. Este trabalho ganhou o prêmio nacional POP (2017) e o Stevie Award (2017), na categoria assessoria de imprensa. O terceiro é o prêmio internacional Latin American Excellence Award (2017[3]) e o troféu Jatobá (2017[4]) pela excelência e inovação em Relações Públicas. Moraes criou uma campanha chamada de 360 (campanha integrada de comunicação) sobre a importância da vacinação de HPV em meninos no Brasil e hoje a vacina está disponível na rede pública de saúde.

“Costumo dizer que temos que fazer a diferença na vida das pessoas, senão nada tem sentido na vida”, relata Moraes. Para ela, o trabalho das marcas hoje tem de estar conectado com propósitos, pois acredita que “a informação é um divisor de águas para as pessoas lutarem pelo que elas têm direito e tenho o privilégio de trabalhar e fazer a diferença com prestação de serviço”.

Pandemia, gestão e consumo

Do dia para a noite com o isolamento social, Andrea teve que coordenar o trabalho em home office de seu grupo direto de quase 90 funcionários na Ketchum. A empresa, em 48 horas, estruturou as quase 180 pessoas trabalhando remotamente. Para ela, isso foi um divisor de águas, “nos obrigou a olhar para estratégias diferentes e inovadoras no trabalho”. Moraes conta ao Memorial do Consumo que a agência fez uma campanha com o RH para mapear o bem-estar dos funcionários. Isso nunca aconteceu na história da empresa e neste mapeamento, olhando caso a caso, descobriu singularidades. “A gente adotou uma estratégia de acolhimento junto ao RH, olhamos às necessidades específicas de cada pessoa, flexibilizamos o horário de trabalho, atendemos às necessidades específicas de quem tinha filhos, morava sozinho, vivia com idosos e assim criamos empatia. Uma coisa que era impossível mapear antes. Acho que estamos mais empáticos”, confessa. 

Tudo isso não é à toa e Andrea acredita que tem se preparado para este momento. Nos últimos anos, Moraes tem estado atenta ao gerenciamento de pessoas principalmente por causa do crescimento do uso das tecnologias. “Se por um lado o on-line veio para ficar, nunca foi tão importante ouvir as pessoas, escutar ideias e percebi isso com a mudança de gerações, isso me fortaleceu na comunicação. A comunicação exige um olhar múltiplo, precisamos estar abertos as inovações tecnológicas”, aponta.

Em meio a um momento de distanciamento temporário, Moraes conta que o home office é um impacto e mudou para sempre a relação de trabalho. Para ela, “isso foi um divisor de águas que nos obrigou a ter um olhar diferente sobre o trabalho”. Quando perguntada sobre se o home office fará parte da rotina de trabalho, Moraes não hesita e acrescenta “Do ponto de vista de negócio, queremos manter o presencial, mas o home office fará parte da nossa atuação.” 

Outra mudança que a pandemia trouxe foi a exposição do espaço íntimo das casas na rotina do trabalho. Para trabalhar em home office é preciso disciplina, pois o público e o privado tendem a se confundir. Diante desta realidade, Moraes pensou em uma oportunidade frente a tantas soluções on-line. Como a rotina inclui agora aulas virtuais, reuniões virtuais, ações virtuais, treinamentos on-line, videoconferência e tantas outras estratégias ela criou um treinamento para lives. Nela, é possível entender de postura diante do computador, voz (intenção), ritmo para não deixar a comunicação solta, o cenário e como interagir virtualmente um diferencial para seus clientes e funcionários, que precisam ter segurança e profissionalismo na tomada de decisão.

Consumo pessoal

Não foi só na empresa que Andrea Moraes viveu mudanças significativas. Em casa a transformação foi “360 graus”, como costuma dizer. “Eu me libertei de umas amarras que tinha (risos). Eu sou o tipo de pessoa que adora conversar, adoro feira livre, cheirar, saber do feirante a procedência dos produtos, mas agora tudo aqui em casa ficou delivery. Farmácia delivery, supermercado delivery, padaria delivery. Por outro lado, pela primeira vez fiquei preocupada com o consumo e hoje olho para o pequeno lojista, do bairro. Faço parte de um grupo que incentiva o consumo onde moro. O meu consumo está mais consciente. Tivermos perdas, mas muitos ganhos também. ”

Perdas e ganhos

Olhando para todas as mudanças que viveu e vive no trabalho nos últimos meses, e não foram poucas, Moraes conclui que a maior perda foi no convívio. “Sinto falta de chegar na agência, cumprimentar todos da portaria até a diretoria, sinto falta do astral gostoso, da relação humana, de conversar com a equipe, de ouvir o cliente, de beijar, de abraçar. Mas é preciso ser realista, a gente não será mais como antes”.

HEIDY VARGAS – é jornalista e doutoranda em Comunicação e Práticas do Consumo no PPGCOM ESPM-SP. Também é mestre em Multimeios pela UNICAMP. Atualmente é professora de telejornalismo e documentário no curso de Jornalismo na ESPM-SP.


[1] Prêmio oferecido pelo Conrerp, http://conrerp2.org.br/

[2] https://stevieawards.com/

[3] https://eu-pr.excellence-awards.com/

[4] https://www.jatobapr.com.br/

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