Como era, não dá mais

O jornalista e pesquisador, Ricardo Fotios, comenta sobre o consumo no jornalismo e entretenimento em tempo de pandemia

Ricardo Fotios Hatzigeorgiou[1] tem o sobrenome grego, um desafio para poucos pronunciarem, mas é brasileiro. Filho da dona Clotilde Angelo de Souza, que nasceu em Valparaíso, no interior de São Paulo; e do grego Nikitas Hatzigeorgiou, que chegou ao Brasil em 1954 ainda pequeno com a família fugindo das consequências da Segunda Guerra Mundial, Fotios, como é carinhosamente chamado, é fruto destas histórias repletas de referências e significados e hoje é jornalista, professor e pesquisador de temáticas relacionadas ao uso de tecnologias no ecossistema da Comunicação. Suas miradas são nas áreas do ciberjornalismo e da comunicação em redes de dados. 

Jornalista sempre e professor há mais de dez anos em Ciberjornalismo, Fotios assumiu desde abril de 2020 o desafio de escrever uma coluna por semana na Cultura[2] fazendo análises sobre o uso de tecnologias na Comunicação. Em sua carreira, acumula longa experiência como repórter e gestor, mas foi como programador que começou no jornalismo importando os textos do jornal Folha de S. Paulo para o site do UOL. Daí para frente fez faculdade, escreveu para os cadernos Ilustrada e a extinta Folhateen (caderno feito para o público adolescente). Depois foi correspondente na Europa e na volta ao Brasil entrou de cabeça no mundo do ciberjornalismo/comunicação em redes e nunca mais saiu. Ocupou o cargo de gerente geral do UOL e coordenou o conteúdo jornalístico do BOL, nele se preocupou em aferir cliques com variáveis salariais na equipe, criar métricas novas de audiência e controlar a qualidade de conteúdo e treinamentos. Tais aferições o levaram à pesquisa e o mestrado na ESPM-SP. A dissertação “Reportagem Orientada pelo Clique: o critério de audiência na notícia on-line”, virou livro em 2018.

Pandemia, jornalismo e entretenimento

Desde o início do isolamento, o que mais tem aumentado na Comunicação é o consumo de conteúdo jornalístico em jornais e na televisão. “Isso prova que quando o calo aperta é no jornalismo que as pessoas vão procurar informações com credibilidade”, responde de bate pronto.  Tal tendência é observada no levantamento feito pelo Ibope. Dados da semana de 6 a 12 de abril mostram que o tempo médio do brasileiro em frente à tela foi de 7h54, um aumento de 1h20 em relação à primeira semana de março de 2020. Entre as 20 maiores audiências de TV dos últimos cinco anos, 13 foram registradas em março, no início das medidas de distanciamento. O Google Analytics apontou que o jornal Folha de S. Paulo bateu recordes de audiência registrando 69,8 milhões de usuários únicos em março e em abril este número pulou para 73,8 milhões.  Diante destes dados, Fotios alerta que o aumento no consumo foi potencializado com a pandemia. O fenômeno ocorre sempre que algum fato inesperado ou evento significativo surge como eleição, Enem, grandes desastres. “Credibilidade é a palavra mágica em tempos de tragédia”, cutuca.

Outra tendência que Fotios desperta a nossa atenção foi o aumento no número de acessos aos conteúdos jornalísticos via plataforma de compartilhamento de vídeo. Um exemplo é o acesso ao Jornal da Record no Youtube, que teve 11,4 milhões de views em maio de 2020. Os dados da Comscore indicam que no mesmo período do ano anterior não havia disponibilizado o programa jornalístico na plataforma, mas se compararmos com dezembro de 2019 os viewschegaram a marca de 5 milhões.

O que para Ricardo Fotios mudou o consumo foi a usabilidade da TV Smart. “Com a pandemia, muitas pessoas começaram a acessar em seus televisores plataformas de compartilhamentos de vídeo e perceberam que tem um mundo de programas, lives, webinairs, óperas, desenhos, séries, filmes tudo disponível on-demand na nossa própria televisão. A mania de ver em tela grande pegou”, confessa Fotios. Desta forma, o pesquisador vê que a pandemia jogou uma pá de cal nas tevês por assinatura pois, para ele, as tvs pagas não fazem mais sentido.

A mesma projeção ele vislumbra para o jornalismo televisivo. Para Fotios, o telejornalismo não vai acabar, vai migrar logo, logo para a internet e será on-demand. “Olhando para um ciberespaço fragmentado o conteúdo publicado pode ser acessado e consumido de qualquer lugar, a qualquer hora. Não tem sentido esperar o telejornal começar às 20h”, reflete Fotios e complementa “… é importante que as televisões se preparem e se posicionem buscando atingir o maior número de pessoas, pois como era não dá mais”.

Outro impacto que Fotios destaca no consumo dos conteúdos jornalísticos atinge em cheio o próprio jornalista, protagonista da mediação. “Já que o consumo muda, devem mudar também os processos de produção na notícia, eles tendem a ficar mais enxutos e com base on-line. Acredito que as redações devem investir em modelos de gestão mais próximas das startups ”, vislumbra Fotios. De certa forma, este movimento anda acontecendo ainda tímido fora das redações com o surgimento de empresas especializadas por exemplo em fack-checking, mas o professor acredita que o mercado jornalístico tem muito a crescer.

HEIDY VARGAS – é jornalista e doutoranda em Comunicação e Práticas do Consumo no PPGCOM ESPM-SP. Também é mestre em Multimeios pela UNICAMP. Atualmente é professora de Telejornalismo e Documentário no curso de Jornalismo na ESPM-SP.


[1] Jornalista, Mestre em Produção Jornalística e Mercado pela ESPM-SP, MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas. Professor e pesquisador de temáticas do ciberjornalismo e da comunicação em redes de dados na ESPM-SP. http://lattes.cnpq.br/4483401614621778

[2] https://cultura.uol.com.br/noticias/colunas/ricardofotios/

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