Israel: “o consumo reflete o nível de maturidade de uma sociedade”

bruno-memorialFormado em Publicidade e Propaganda pela PUC-Rio, Bruno Israel começou sua carreira como estagiário de redação na Contemporânea. Em seguida, foi para a Rebouças & Associados, onde mergulhou no planejamento estratégico com clientes de vários segmentos – como Lafarge, Grupo Sendas e IBM. Entre 2003 e 2010, teve seu próprio escritório de criação, que integrava redatores, designers, diretores de arte, ilustradores e fotógrafos, entre outros, no modelo on demand, onde trabalhou para clientes como White Martins, iBase e Fundação Vale do Rio Doce, entre outros. Em 2010, enfim, entrou para a equipe da Ana Couto Branding, onde lidera o time de conteúdo e a área de comunicação que atende clientes como Caixa Seguradora, Youse, Itaú-Unibanco, Amsterdam Sauer, Beach Park, Frescatto e Teleperformance.
Confira o papo de Israel com o Memorial do Consumo:
Memorial do Consumo: Qual a sua memória sobre publicidade e consumo na infância?
Bruno Israel:
Vivi uma época sem muita regulamentação. Tanto que a marca de chocolates que eu mais gostava (Pan) era em formato de cigarrinhos – cuja embalagem estampava um menino de 10 anos de idade fumando. Zero chance disso acontecer hoje em dia, né? Além disso, sinto que a publicidade que eu consumia na infância era muito mais formadora de opinião do que hoje. Era mais fácil virar bordão. Teve a “bonita camisa, Fernandinho”, o “Não é nenhuma Brastemp”, o “1001 utilidades” e o emblemático “o primeiro sutiã a gente nunca esquece”. Acho que era mais fácil grudar na cabeça e virar assunto entre as pessoas do país inteiro porque o combo TV+jornal+revista+rádio era basicamente a única fonte de informação. Sem internet, era muito mais difícil compartilhar e trocar informações com outros consumidores, abrir diálogos com as marcas e desenvolver um senso crítico mais empoderador sobre tudo o que a indústria da publicidade e seus anunciantes estavam sendo, fazendo e falando.
Memorial do Consumo: Como o seu trabalho influencia suas práticas de consumo?
Israel: A maior vantagem de trabalhar com branding é poder mergulhar nos bastidores dos nossos clientes. Não trabalhamos com “briefing ponta do iceberg”, que são pedidos de criação geralmente focados em questões pontuais – como a campanha de natal, a gestão de crise ou a necessidade de viralizar. O briefing, na Ana Couto Branding, é feito junto com o cliente em cima dos objetivos e dores do negócio, a personalidade da marca e o tipo de engajamento que precisamos gerar na comunicação. Esse alinhamento é tão profundo que você passa a conhecer não apenas os medos, ambições, forças e fraquezas da empresa que contratou sua agência, mas do segmento como um todo. O resultado é um olhar muito mais apurado na hora de consumir porque você não olha mais apenas para o produto ou o serviço que está comprando. Você começa a botar na balança, também, a cultura corporativa daquela empresa, seu propósito e o tipo de ecossistema de valor que ela constrói com a sociedade.
Memorial do Consumo: O que o consumo representa para você? 
Israel: Na minha opinião, consumo reflete o nível de maturidade de uma pessoa ou de uma sociedade. Consumo cego é o extremo da imaturidade porque desconsidera questões ambientais, sociais e econômicas. Com a campanha de lançamento que fizemos em setembro para um dos nossos clientes, a marca de seguros Youse, tivemos a oportunidade de conhecer um coletivo chamado Roupa Livre. Um grupo que recicla e refaz moda com base na premissa de que o mundo já tem roupa suficiente para os próximos 50 anos. Então, qual é o sentido de comprar uma roupa nova a cada visita ao shopping? Isso nos faz pensar que o mundo não precisa de coisas novas – precisa de olhares novos. E novo olhar não significa apenas comprar menos, mas comprar com mais atenção.
Memorial do Consumo: E isso faz com que as empresas repensem sua atuação.
Israel: O mercado de alimentos (carregado de açúcar, sal, gordura, corantes, adoçantes e tantos outros itens que o mundo ama e odeia ao mesmo tempo) está vivendo essa discussão há um bom tempo. O mesmo para o mercado automobilístico. Afinal, como uma corporação que vende carros pode sobreviver em um mundo cada vez mais colaborativo e onde faz mais sentido reduzir seu impacto no trânsito, compartilhar bens e poluir menos? Só tem um jeito: repensando seu papel no mundo. Resumindo, quanto mais madura uma pessoa, mais aberta a repensar suas práticas de consumo. Quanto mais madura uma empresa, mais aberta a cocriar um novo contexto de negócios. E quanto mais madura uma sociedade, mais fluida, transparente e produtiva será a relação entre marcas e consumidores.

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