Jornalismo e comunidade LGBT: uma pesquisa sobre representação na imprensa brasileira, de Ciro Martins Pires de Oliveira

Mestrando em Comunicação pela Faculdade Casper Líbero, Ciro Martins Pires de Oliveira conta ao Memorial do Consumo sobre sua pesquisa:
“O Brasil é considerado o país que mais mata Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais  (LGBT) no mundo e isso vem na contramão da ideia que se tem de uma nação acolhedora das diversidades.  Praticamente uma vítima por dia é morta devido a crimes de ódio que se espalham pelos estados brasileiros. São corpos com famílias, corpos sem famílias e famílias sem os corpos. Os discursos de ódio que guiam estes atos, apesar de irracionais, possuem raiz em diferentes âmbitos culturais, sendo um deles a comunicação.
A forma como os veículos representam essas pessoas é capaz de modificar e perpetuar comportamentos e pensamentos ao longo de décadas, construindo uma relação direta entre memória e consumo. O que se vê, o que se sabe e o que se lê através dessas plataformas é muito importante para refletir o posicionamento de uma sociedade sobre o assunto. É como se houvesse um muro de concreto entre quem não é e quem é LGBT e a mídia possuísse a capacidade de tornar esta fronteira um pouco mais acessível entre esses dois grupos que jamais ocuparão o mesmo espaço, uma vez que o reconhecimento desta diferença é primordial, ao invés de sua anulação.
Por isso criou-se a pesquisa sobre as representações desta comunidade nas revistas de alta circulação, sendo: Veja, IstoÉ, Época e Carta Capital.  Para analisar de que forma esses veículos semanais trabalham as identidades LGBTs dentro de suas reportagens e notas ao longo dos anos de 2015 e 2016. Os resultados ainda permanecem em estudo, mas até agora é possível notar que a mídia faz uso de identidades da cultura pop (drag queens, cantores(as) e atores que assumem suas identidades de gênero e orientação sexual) em seus cadernos, mas há um distanciamento na profundidade do assunto, principalmente nos crimes cometidos contra esta comunidade, ou seja, as revistas não se dedicam em momento algum (ao longo de mais de 40 matérias sobre a temática) a falar sobre LGBTfobia no Brasil até mesmo quando a pauta é sobre essas identidades. De certa forma, negando a existência desses crimes, a imprensa afasta a possibilidade de uma conscientização da população sobre a gravidade do assunto e a possibilidade da mudança.
Fazer esta pesquisa vem sendo um desafio diário, mas a noção de que isso pode servir de base para contestar uma imprensa que gosta de “adotar” as identidades da comunidade, mas reluta refletir sobre suas mortes, é o que impulsiona quem pesquisa.  A ideia de entrelaçar os conceitos de produção, identidade, representação (imagem e texto) e memória, seguindo o Circuito da Cultura, foi o que fez com que o projeto tomasse vida e se tornasse em pesquisa. Foram apresentados artigos que nascem desta pesquisa em diferentes congressos pelos Brasil e América Latina, levando a discussão para além do território nacional.
É importante para nós, enquanto sociedade, questionar os posicionamentos dos veículos e verificar se trazem informações ou desinformações no que dizem, mas principalmente naquilo que deixam de dizer.”

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