Lula: uma história contada pelos dados do Google

Francisco Proner - Foto Lula

São Paulo, 08 de abril de 2018 – Ontem ocorreu a prisão de Lula. O início da justiça para uns, que como o juiz Sérgio Moro acreditam que “Não importa o quão alto você esteja, a lei ainda está acima”; injustiça para outros, que como ressaltou Lula em seu discurso antes de se entregar. “Há muito tempo, sonhei que era possível governar esse país envolvendo milhões de pessoas pobres na economia, nas universidades, criando milhões de empregos (…) Esse crime eu cometi. Eu cometia esse crime que eles não querem que nem eu nem ninguém cometa mais. É por conta desse crime que já tem uns dez processos contra mim. E se for por esse crime, de colocar pobre na universidade, negro na universidade, pobre comprar carro, pobre andar de avisão, se esse é o crime que eu cometi, eu vou continuar sendo criminoso nesse país, porque eu vou fazer muito mais!”

Além de se inflamar contra o processo, Luiz Inácio também atacou a imprensa. “Eles têm que saber que a morte de um combatente não para a revolução.  Eles têm que saber que nós vamos regular os meios de comunicação para que o povo não seja mais vítima das mentiras que a imprensa conta. Eles têm que saber que o povo vai queimar os pneus que vocês querem queimar, vai fazer as passeatas que vocês querem fazer e as ocupações que vocês querem fazer”, indignou-se Luiz Inácio Lula da Silva.

Fake news

Há muito a imprensa é acusada de distorcer a verdade, de manipular a opinião pública. Ainda mais hoje, com as chamadas fake news, que podem ser criadas por qualquer um e alcançar uma grande audiência pela rápida e ampla disseminação virtual. É inegável que a internet e as redes sociais mudaram nossa forma de consumir informação

Segundo matéria do Huffington Post, a expressão se popularizou em novembro de 2016, o mês da eleição presidencial norte-americana, apesar de começar a ser utilizado em idos de 1890.

Para combater a prática, surgiu o fact-checking. A agência Lupa é a primeira no País especializada nessa checagem de notícias. Inclusive, a agência checou os dados apresentados no discurso do ex-presidente.

Talvez possa se atualizar a reconhecida frase para “contra dados, não há argumentos” e nos ajude não a escolher um dos lados: contra ou a favor da prisão de Lula – no último final de semana foram produzidas as mais variadas análises, para tanto, sugere-se sua leitura. Será que é possível alcançar a imparcialidade, premissa jornalística, pelas buscas no Google? Forma de fugir do dito “isso a Globo não mostra”, descrédito do público que não se limita à emissora dos Marinho;  prova disso são as agressões aos jornalistas. Enfim, é a isso que se propõe este artigo.

Quem procura, acha no Google

O Google Trends, ferramenta gratuita do buscador, mapeia as últimas tendências em termos pesquisados. “Lula” vem em 28º lugar, tendo como tópicos relacionados “Odilo Scherer” e “Arquidiocese de São Paulo”, uma vez que o arcebispo celebrou uma missa em homenagem à finada esposa de Lula, Marisa Letícia, que aconteceu ontem na sede do Sindicato dos Trabalhadores do ABC.

Nos últimos 12 meses, os picos de buscas pelo termo “Lula” aconteceram na semana de 13 de maio de 2017, quando houve o depoimento ao juiz Sérgio Moro. Outro na semana de 9 de julho, condenação do ex-presidente pelo triplex no Guarujá. Um ápice nas pesquisas (mas inferior aos anteriores), ocorre em 10 de setembro: é o novo interrogatório de Lula feito por Moro, audiência feita por videoconferência, talvez por isso tenha chamado menos atenção. O maior volume de buscas acontece na semana de 21 de janeiro de 2018, o ex-presidente é condenado por unanimidade pelos três desembargadores do Supremo em 2ª instância no caso do triplex. As buscas aumentam no início de março quando são julgados os recursos de Lula e seu destino selado. Os recentes acontecimentos, a ordem de prisão, a resistência de Lula no sindicato e seu encarceramento em Curitiba, não aparecem, pois como o sistema é semanal, devem ser computados apenas nos próximos dias.

Recurso autocompletar

O Google Trends traça uma linha do tempo, mas não necessariamente possibilita analisar as ocorrências. Dessa forma, vale a pena testar outra ferramenta do Google: o autocompletar, amplamente utilizado pela revista Wired para entrevistar personalidades. Digita-se no buscador o termo, no caso “Lula”, e vê-se de que forma a busca é completada. Veja aqui exemplo feito com os atores do filme Pantera Negra.

Se fazemos isso com o termo “Lula”, surgem 44.700.000 resultados, sendo que o primeiro é a página no Facebook do politico e em terceiro, seu site. Em segundo lugar, vem uma matéria da BBC de nove horas atrás, que questiona se o ex-presidente poderá fazer campanha e ser eleito de dentro da prisão. Aí sim temos uma demonstração da preocupação dos cidadãos. Não é possível determinar se é pela vontade de que o candidato seja eleito ou pelo temor de que isso aconteça. Economize seu clique, adianto que devido à lei da Ficha Limpa, não é possível. A terceira ocorrência informa que o líder do PT dormiu tranquilamente em sua primeira noite na carceragem e a quarta trata da imagem que ilustra este artigo, que apresenta o ex-presidente rodeado, mesmo declarado culpado, praticamente abraçado pelo povo.

Voltando ao recurso do autocompletar do Google, ao se digitar “Lula”, o que surge em primeiro lugar, com 1.170.000, é “lula preso” como era de se esperar; seguido de “lula 2018” (4.750.000), o que tanto apresenta notícias sobre a encarceramento quanto as previsões financeiras no caso da eleição do presidenciável no pleito deste ano. O próximo destaque é “lula presidente” (1.960.000) e “lula ministro” (9.910.000), após referências desconsideradas como o personagem de desenho, o animal e pratos à base da iguaria.

Bolha da internet

Fora o “lula preso”, que aconteceu, todos os termos do autocompletar são positivos. No entanto, mesmo no Google funciona a bolha da internet. O sistema de buscas se comporta de forma diferente para cada usuário. Não apenas ele procura apresentar os resultados mais relevantes de acordo com o termo buscado, mas também aqueles de fontes mais confiáveis (devido a alta referência dos links) e ainda, seguindo as preferências de quem está fazendo a pesquisa, baseando-se em suas buscas anteriores e endereços web clicados.

Em outras palavras: minha busca no Google, tanto no Trends quanto no Autocompletar, mostram Lula de forma favorável. Só que isso não significa que seja necessariamente verdade para todos, apenas para mim, levando em conta as buscas que costumo fazer. Não, nem o Google consegue ser imparcial, uma vez que é orientado para nos apresentar os dados que melhor podem corresponder às nossas preferências.

É possível afirmar pelo volume de buscas do termo “Lula”, 44.700.000, contra 13.200.000 de “Temer” (apenas a título de exemplo), que o ex-presidente é um capítulo importante da nossa história, “como nunca antes neste País”, como ele próprio gostava de dizer em seus discursos. Figura controversa, injustiçado; ou tenha sido feita a justiça, o fato é que como defende Brecht em sua peça sobre Galileu Galilei, pobre não é o povo que não tem herói, mas aquele que precisa de heróis.

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 0 / 5. Número de votos: 0

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

Lamentamos que este post não tenha sido útil para você!

Vamos melhorar este post!

Diga-nos, como podemos melhorar este post?