Quer ser uma GirlBoss?

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2006. A jovem californiana de 20 e poucos anos, Sophia Amouroso, abre uma lojinha virtual no eBay. Expulsa por quebrar regras de divulgação, resolve abrir um e-commerce próprio. Em 4 anos, sua empresa, Nasty Gal, avaliada em US$ 100 milhões, com 350 funcionários, ocupa um escritório de 4.600m2 em Los Angeles e abre a sua 1a. loja física. Sophia é capa das revistas Forbes e Entrepreneur, faz parte da lista de empreendedores de sucesso da CNN Money e é nomeada pela revista Inc. como a varejista de crescimento mais rápido dos EUA. Em meio a esses acontecimentos, em 2014, Sophia lança o seu 1o. livro: a biografia #GIRLBOSS, com uma clara intenção de inspirar seus leitores. Tendo se tornado best seller, em 2016, Netflix anuncia a produção de uma série baseada no livro.
Mas… que tipo de inspiração seria oferecida nesse livro? Em que ideal se baseiam os discursos ali presentes? Estaria Sophia convocando as mulheres a inspirar-se em seu estilo de vestir – na medida em que é considerada uma referência em moda? Quais as normas de conduta valorizadas e desvalorizadas nos discursos e narrativas de Amoruso?
É sobre questionamentos como esses que se debruça Vivian Barroso, mestranda do PPGCOM da ESPM-SP. “É interessante observar como as narrativas dos agentes da cultura empreendedora ampliam suas vinculações para além da esfera do trabalho, alcançando variadas formas de consumo, amplamente midiatizadas”, nota Vivian. Em suas narrativas inspiracionais, Sophia mostra uma intenção de transpor a inspiração nos looks para uma inspiração maior, convocando as mulheres para a modulação de suas subjetividades com vista a alcançar uma “vida incrível”. Amoruso se coloca como um modelo inspiracional completo e deixa claro que não busca como público apenas as pessoas da área da moda, mas todas as mulheres que busquem o sucesso. Seus discursos carregam o atual ideário da cultura empreendedora, empregando o conceito de espírito empreendedor para além do mundo dos negócios, como uma “atitude empreendedora” diante da vida.
Em sua pesquisa, Vivian observa um processo de pedagogia social que Castro (2016) denomina como coaching midiático. Sophia é configurada como coach midiática para mulheres que se identifiquem com esse ideário e desejem “ser Girlbosses”. Seus discursos apresentam uma enorme potencialidade midiática pois atendem à formulação atual do sujeito ideal para a racionalidade neoliberal e refletem o imperativo da vida como empreendimento.
O modo de vida caracterizado por Amoruso como sendo o estilo de vida de uma Girlboss é transmitido enquanto experiência de quem já teria alcançado uma “vida de sucesso”. Tal modelo evoca a todo tempo a retórica capitalista avançada como parâmetro e métrica para todos os espaços da vida.
Amoruso emerge da cultura empreendedora, um campo que exalta e tem os seus agentes exaltados socialmente como modelares na contemporaneidade. Estes desempenham papel vital para difundir e engajar indivíduos à racionalidade neoliberal, convocando a sociedade a assimilar a empresa como um modelo máximo de subjetivação, convocando a olhar-se a vida como um empreendimento a ser gerido sob as máximas da flexibilidade, produtividade, concorrência, autonomia –  apresentadas como aplicáveis a todos os âmbitos da vida.
Somando-se as inferências que tais discursos promovem, temos outro fator importante: refletir sobre as implicações destes discursos quando propostos como exequíveis a todas as mulheres. Sabemos que não há homogeneidade em nenhum gênero, mas é preciso levar em consideração as desigualdades históricas e sociais impostas às mulheres e que geram impactos em diversas áreas de suas vidas. A falta de homogeneidade se torna ainda mais evidente ao se adicionar outros indicadores como raça, local de moradia, classe econômica e idade. Todos estes fatores revelam as diferenças e desigualdades impostas às mulheres, não somente no trabalho, mas nas diversas aéreas da vida.

Para saber mais sobre essa pesquisa, acesso o artigo que deu origem a este post, aqui.
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