Consumindo modos de estudar e de ser estudante nas plataformas de redes sociais
Para se concentrar nas provas, vestibulares e concursos uma das dicas é dar um tempo com as plataformas de redes sociais, certo? Talvez não. Instagram, YouTube e até mesmo o TikTok têm sido utilizados como ferramentas para lecionar e complementar os estudos.
A mudança no modo de consumir conteúdo online tem sido constante nos últimos anos, assim o papel do educador e do comunicador passou a se misturar como no caso dos professores Edutubers, que reúnem milhões de inscritos e visualizações no YouTube. O mesmo começa a ocorrer no TikTok onde professores de português, inglês, matemática e uma série de outras disciplinas, publicam tira-dúvidas com uma dinâmica de entretenimento que se mistura a questões de vestibular.

Além do educador como influencer, os estudantes também encontram modos de se organizar e estudar utilizando plataformas de redes sociais como recurso. Chama a atenção que o Instagram esteja entre essas escolhas. Por se tratar de uma rede de imagens que reúne fotos com legendas e vídeos curtos que priorizam a estética, o formato de estudar se integra a dinâmica dessa rede tornando o estudar um momento “instagramável”.
Os usuários da rede que fazem parte deste nicho específico de uso se reúnem por meio da hashtag #studygram que concentra mais de 13 milhões de publicações em diversos idiomas.

Entre os conteúdos compartilhados entre os estudantes estão artigos de papelaria, cursos, resumos de matérias, mapas mentais, dicas de organização para estudantes, mensagens motivacionais e técnicas de caligrafia conhecidas como lettering.
Entre as características mais marcantes dos studygrams está o fato de que se trata de uma educação estética. O conteúdo é composto por belos resumos com letra delineada, folhas e canetas coloridas. Outro ponto interessante é ostentação, nas fotos publicadas é possível ver grandes coleções de canetas e marcas internacionais de material escolar, em meio a textos sobre uma rotina de estudos para concursos, vestibulares e outras provas. Além disso, as legendas são por vezes narrativas motivacionais com discursos de autoajuda e do empreendedorismo de si.
Todos os aspectos da vida moderna parecem estar passando por mudanças relacionadas às tecnologias de comunicação. Se o banco, o supermercado e a consulta médica já chamam o consumidor a experimentar suas versões em plataformas online, a escola também. E não são apenas em videoaulas, mas na forma de socializar com outros alunos, seja do mesmo curso e sala, até de qualquer lugar onde as curtidas e compartilhamentos podem chegar. A educação já forma seu próprio ecossistema de influenciadores, cursos e fãs.
Se como disseram Douglas e Isherwood (2009, p. 116) “o indivíduo usa o consumo para dizer alguma coisa sobre si mesmo, sua família, sua localidade”, os estudantes e professores começam a dizer algo sobe a mudança no modo de consumir formatos comunicacionais por meio da comunicação, basta observar o que estão compartilhando.
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Bianca Biadeni é Doutoranda em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano, na USP. Mestre em Comunicação e Práticas do Consumo pela ESPM-SP. Membro do grupo de pesquisa Gruscco (Grupo CNPq de Pesquisa em Subjetividade, Comunicação e Consumo).