Migrações LGBT na cidade de São Paulo

O artigo “Fluxos migratórios, comunicação e cidadania: vivências de imigrantes LGBT na cidade de São Paulo” –  de Denise Cogo, Professora Titular, Pesquisadora e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM-SP, e Hadriel Theodoro, doutorando na ESPM-SP, nos traz a perspectiva de migrantes LGBT que residem na cidade de São Paulo. Antes de tudo, como mostra o artigo, devemos entender o espaço de agência do migrante, observar que podem existir diversas causas para essa migração e, acima de tudo, entender o espaço do eu e do Outro neste âmbito.

            No artigo acima referenciado os autores nos trazem uma breve noção do espaço de alteridade do sujeito LGBT e como esse espaço é reiterado a partir de normas e expectativas de sexo e gênero, não só na migração. Esses sujeitos devem ainda ser localizados no Brasil e no preconceito atual existente no país, como mostram os autores: 

[…]em nossa sociedade, a LGBTfobia acaba sendo potencializada, legitimada e reiterada, favorecendo o agravamento de precariedades aos sujeitos LGBT, a repercutir nas experiências dos/as imigrantes que aqui se instalam. (COGO e THEODORO, p.60, 2019)

            Ou seja: a interseccionalidade se torna um fator chave da migração para o Brasil. Em continuidade, o artigo nos mostra que todos esses deslocamentos criados sobre o sujeito que migra são balanceados pela mídia, isto é, a mídia é o espaço de embate entre o eu e o Outro e de disputa de sentidos, como na fala dos autores:

Temos uma ambivalência: sujeitos precarizados, como o caso de imigrantes LGBT, precisam tornar-se pública e midiaticamente visíveis, para que suas reivindicações ou sua própria existência sejam ao menos asseguradas. No entanto, ao mesmo tempo em que essas visibilidades são tensionadas, ficam passíveis a uma heterogeneidade de enquadramentos que podem essencializar suas experiências. Como as mídias são entremeadas por múltiplos interesses, esses regimes de visibilidade estão sempre em jogo. (COGO e THEODORO, p.62, 2019)

            A partir desse ponto o artigo traça um caminho de realização de entrevistas semiestruturadas – realizadas com uma mulher lésbica estadunidense e uma mulher transgênero finlandesa – e uma análise textual, orientada pela análise do discurso de linha francesa. 

            A primeira entrevistada é Ana, identificada como uma mulher branca, lésbica e natural dos Estados Unidos. Alguns dos pontos levantados por Ana quanto a esse processo de migração foram a incerteza da residência no Brasil – chegando a cogitar um casamento de fachada com um amigo para poder viver no país – e as constantes esferas de invisibilzação que a mesma sofreu, inclusive de outros sujeitos da comunidade LGBT. A história de Ana nos ajuda a pensar o apoio e a facilidade em se misturar oferecida pelas metrópoles, pois, afinal, como o artigo mostra, Ana percebeu uma facilidade maior em construir um círculo de amigas lésbicas em São Paulo do que no interior do Espírito Santo. 

            Maria, mulher branca, natural da Finlândia e transgênero, é o retrato de um outro Brasil. Maria comenta sobre as diferenças de tratamento de corpos divergentes no Brasil e na Finlândia, ou melhor, como no Brasil a cultura do “cuidado com o próximo” é usada como subterfugio de violência física, psicológica e simbólica. Maria nos mostra como a cidade de São Paulo pode ser um espaço tanto de altos índices de violência contra pessoas trans, quanto um local de resistência. Resistência essa que, como mostram os autores, muitas vezes é trazida e apoiada apenas por veículos de comunicação e informação dissidentes. Por fim, o artigo nos traz o seguinte pensamento:

Com base nas reflexões teóricas propostas e na análise dos relatos de Ana e Maria, evidencia-se que as dinâmicas de (in)visibilidade apresentam um papel fundamental tanto no projeto migratório quanto nas micropolíticas cotidianas. Ao mesmo tempo, inscrevem-se no cerne do exercício da cidadania, visto que continuam a exercer uma dupla influência nas experiências de vida de sujeitos LGBT, incluindo imigrantes. Visibilizar-se ou invisibilizar-se, ser visibilizado/a ou ser invisibilizado/a, são processos socioculturais que refletem em sua própria existência e na capacidade de agência enquanto atores sociais. (COGO e THEODORO, p.70, 2019)

            Ou seja: ser um sujeito visível – algo que deve ser promovido pela mídia e os demais espaços sociais e políticos – é a base para ser um sujeito que exerce e desloca poderes.

Daniel Zacariotti

Mestrando em Comunicação e Práticas de Consumo pela Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM, realiza pesquisas com foco em audiovisual, gênero, decolonialidade e Teoria Queer. Atua como Diretor e Produtor em projetos audiovisuais dentro do Coletivo Composto.

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